UFFS: estudo aponta que 87% dos trabalhadores rurais estão expostos a agrotóxicos há mais de 10 anos

Publicado em 16/08/2017 14:56:15
MÍDIA PATROCINADA
MÍDIA PATROCINADA
MÍDIA PATROCINADA
Uma pesquisa realizada com 113 trabalhadores rurais do município de Cerro Largo apontou que a exposição a agrotóxicos está presente predominantemente em agricultores do sexo masculino, de idade entre 51 a 76 anos, com baixo nível de escolaridade e em trabalhadores de pequenas propriedades ruais. Em 87% dos entrevistados, os agrotóxicos são utilizados há mais de 10 anos, além de 85% utilizar mais de um tipo de produto, e 81% destes são de classe toxicológica III e I (medianamente tóxico e extremamente tóxico, respectivamente).

O estudo foi realizado pela mestranda em Desenvolvimento e Políticas Públicas da UFFS – Campus Cerro Largo, Letiane Peccin Ristow, orientada pela professora Iara Denise Endruweit Battisti, que analisou a exposição ocupacional por agrotóxicos como subsídio para execução de políticas públicas. As entrevistas foram feitas entre os meses de dezembro de 2016 a março de 2017 e as questões abordaram dados sociodemográficos, práticas de trabalho relacionadas ao uso de agrotóxicos, sintomas de doenças e associação a agrotóxicos e treinamento para uso seguro de agrotóxicos.
“As medidas de uso seguro são propagadas pela indústria química e legislação em vigor, embora existam estudos que evidenciaram sua ineficiência diante da diversidade agrícola e sociocultural entre as regiões brasileiras. Muitas vezes, os cuidados no uso de agrotóxicos ocorrem apenas na aplicação e não nas outras atividades em que há a manipulação destas substâncias, como na aquisição, transporte, armazenamento, devolução das embalagens vazias e na lavagem das roupas ou Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) contaminados”, explica a mestranda.

Segundo a pesquisa, as atividades laborais dos trabalhadores rurais realizadas em acordo com as medidas de uso seguro foram aquisição de agrotóxicos e destino final das embalagens vazias, as quais estão ligadas à existência de fiscalização. Em contraponto, transporte, armazenamento, preparo e aplicação dos agrotóxicos e lavagem das roupas contaminadas são realizadas de forma insegura pela maioria dos trabalhadores rurais. O não uso de EPIs foi informado por 69% dos trabalhadores rurais.

A maioria dos trabalhadores rurais afirma ter recebido treinamento para uso de agrotóxicos, que é realizado principalmente pelas empresas que comercializam agrotóxicos, cooperativa agrícola, por meio de palestras, cursos ministrados por agrônomo ou técnico agrícola ou dias de campo. Apesar disso, a metade dos trabalhadores rurais afirma ter dúvidas quanto ao uso seguro de agrotóxicos, evidenciando o desconhecimento sobre riscos à saúde em razão da exposição ocupacional. Referente a sintomas de intoxicação por agrotóxicos, 37 (33%) trabalhadores rurais ou familiares tiveram problemas de saúde como náusea, tontura, dores de cabeça e câncer, que julgaram ser decorrente da exposição a agrotóxicos.

Entretanto, conforme afirma Letiane, “a falta de cuidados na manipulação dos agrotóxicos não deve ser vista como uma negligência dos trabalhadores rurais e sim, como resultado do modelo de produção agrícola hegemônico no país que preconiza o uso de agroquímicos, da falta de políticas públicas para promoção do uso seguro de agrotóxicos; da carência de treinamentos oferecidos por órgãos públicos; e da inadequação das medidas de uso seguro nas atividades laborais dos trabalhadores rurais cerro-larguenses”.

A pesquisadora argumenta que seu estudo contribuiu para o reconhecimento da existência de fatores de risco à saúde dos trabalhadores rurais do município e “pode orientar políticas públicas e medidas de intervenção baseadas nos resultados encontrados, as quais devem conter treinamentos sobre uso seguro de agrotóxicos e informações sobre os efeitos nocivos destes à saúde, na medida em que conhecimento é uma forma de empoderamento”, conclui.


-
Crédito: UFFS - ASCOM/CL